Eu achei que já era hora de pularmos dentro daquele portal imenso, mas minha prima estava com medo. “E se nós cairmos no chão duro do barranco e nos esborracharmos todos?”, ela não parava de perguntar. Para meu irmão, qualquer decisão era boa. Ele aceitava qualquer uma. “Pular ou não pular, eis a questão...”, ele não parava de falar para si mesmo. Minha prima ficou com vontade de dar outro soco nele, mas nós (eu e Ak) conseguimos acalmá-la. De vez em quando, ele se queixava de dor no queixo. Minha prima sempre fazia o mesmo comentário, “Você mereceu!” e sempre que ela falava isso, meu irmão prometia que ia se vingar.
“Você não é de nada!”, falava minha prima. “Eu sou muito mais forte”.
“Sei”, dizia meu irmão, com uma cara de ódio e se queixando de dor. Parecia que sempre que ele falava, o queixo doía, porque ele ficava exclamando sempre a mesma coisa: “AAAAAI!!!”
“Querem saber?”, disse meu irmão, como se tivesse decidido alguma coisa. “Eu vou pular nesse maldito portal e ver para onde ele me leva.”
“Eu não sei não”, disse minha prima. “E se for miragem?”
“Miragem?”, perguntou meu irmão.
“Isso mesmo, miragem. Não sabe o que é miragem?”
“É claro que eu sei o que é miragem. Mas o que você está dizendo que é uma miragem?”
“O portal, inteligência. Nós estamos com tanta vontade de sair daqui que estamos vendo um portal maluco que não existe dentro de um ovo maluco que não existe.”
“Eu não acho que seja miragem, e vou pular.”
“Ela pode ter razão, mano”, eu disse. “Que eu saiba, não existem portais de arco-íris dentro de ovos rachados ao meio.”
“Não quero saber. Eu vou pular.”
“Se você pular, eu vou dar um soco na sua cara”, disse minha prima, erguendo um punho fechado. “Isso se você não morrer na queda, é claro.”
“Não diga uma coisa dessas!”, eu disse.
“Tudo bem, mano”, disse meu irmão. “Ela não irá me convencer a não pular.”
“Eu também quero que você não pule”, eu disse.
“Nem eu”, disse Akchimy.
“Vamos conversar um pouco”, eu disse.
“Eu acho que isso é só um jeito de fazer eu não pular.”
Todos nós sorrimos. Meu irmão olhou para nós por um tempo e depois disse:
“Está bem, vamos conversar só um pouco. Mas eu ainda quero pular.”
“Certo”, disse minha prima.
Nós conversamos. Passamos a tarde inteira conversando. Falando de besteiras, coisas importantes, coisas sem graça, coisas engraçadas, divertidas... Até que chegou a noite. Contamos histórias de terror ao redor da fogueira que acendemos. Depois que Akchimy contou sua última história, resolvemos dormir.
“Eu não pulei”, disse meu irmão, quase sussurrando.
“O quê?”, eu perguntei, pois não tinha ouvido o que ele falou.
“Eu não pulei”, ele repetiu.
“Ainda bem”, disse minha prima. Apesar de odiá-lo, minha prima amava meu irmão, mas não demonstrava isso, só demonstrava ódio por ele.
“Também acho”, disse Ak.
“Amanhã eu pulo”, ele disse.
“Desista dessa ideia”, eu disse.
“Não vou desistir. Não era você que queria pular, mano?”
“Mas eu mudei de ideia”, eu disse.
“Mas eu não”, ele disse e, logo depois, virou para o lado e dormiu.
“Essa grama é dura demais”, disse minha prima. “Eu não consigo dormir.”
“O que você queria? Sacos de dormir? Colchões? Não estamos acampando, estamos perdidos, se você não percebeu.”
Akchimy riu.
“Era só o que faltava”, ela reclamou. “Eu não nasci prá dormir no chão, muito menos numa floresta que tem animais que podem me atacar enquanto eu estiver dormindo. Eu queria pelo menos um travesseiro.”
“Usa uma pedra como travesseiro”, eu disse. “Tem uma bem ali.” Eu apontei para uma pedra que estava encostada na árvore em que ela e meu irmão estavam presos.
Eu me acabei de rir com a piada, mas minha prima não achou graça nenhuma.
1: Déminpépou e o Ovo Cósmico
2: Déminpépou e o Ovo Cósmico - Parte 2
3: Déminpépou e o Ovo Cósmico - Parte 3
4: Déminpépou e o Ovo Cósmico - Parte 4
5: Déminpépou e o Ovo Cósmico - Parte 5
6: Déminpépou e o Ovo Cósmico - Parte 6
7: Déminpépou e o Ovo Cósmico - Final Cap. 1
10: Déminpépou - Continuação do cap. 2 - Parte 2
Um comentário:
Estava morrendo de saudades de Deminpépou e cia!
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